Em julho de 2018, três irmãs esfaquearam e agrediram o pai até a
morte enquanto ele dormia, no apartamento da família em Moscou, na
Rússia.
Investigadores confirmaram que o pai das garotas abusou fisicamente e psicologicamente das três, por anos a fio.
O caso das irmãs, que foram indiciadas por homicídio, e também o que pode acontecer agora com elas, vem provocando muita polêmica sobre violência doméstica na Rússia. Mais de 300 mil pessoas já assinaram uma petição pedindo para que elas sejam libertadas.
Logo depois, quando adormeceu, as meninas o atacaram com uma faca, um martelo e spray de pimenta, atingindo-o na cabeça, no pescoço e no peito. O corpo de do russo foi encontrado com mais de 30 ferimentos a faca.
A filha mais nova ligou para a polícia, e as três foram presas no local do crime.
A investigação logo indicou um longo histórico de violência na família. Khachaturyan bateu nas filhas regularmente nos últimos três anos, torturando-as e mantendo-as prisioneiras em casa, além de abusar delas sexualmente.
Todas as evidências contra o pai estão no inquérito policial.
Violência doméstica na Rússia
O caso atraiu a atenção da opinião pública rapidamente. Ativistas de direitos humanos argumentam que as irmãs não são criminosas, mas vítimas, uma vez que não tinham proteção nem receberam ajuda.
Na Rússia, não existem leis específicas para proteger vítimas de violência doméstica.
Desde 2017, a legislação prevê multa e até duas semanas de detenção para agressores que sejam réus primário e que tenham batido pela primeira vez em um integrante da família, desde que a agressão não leve a vítima ao hospital.
A polícia russa normalmente trata abuso doméstico como “problema de família”, oferecendo pouco ou nenhum auxílio.
A mãe das garotas, que também apanhou e foi abusada sexualmente do marido, já havia procurado a polícia anos antes. Vizinhos da família, que tinham medo de Khachaturyan, também o denunciaram. Mas não há nenhum indício de que a política tenha tomado providências.
Quando o homem foi morto, a mãe das meninas já não morava com a família. O pai havia proibido as filhas de manter contato com a mãe.
De acordo com avaliações psicológicas, as irmãs viviam em situação de isolamento e sofriam de estresse pós-traumático.
Promotores insistem que o assassinato foi premeditado porque a vítima estava dormindo, e as irmãs coordenaram as ações, escondendo a faca cedo, ainda pela manhã. A motivação, argumenta a acusação, é vingança.
Se forem condenadas, as irmãs podem ficar até 20 anos na prisão. Angelina teria usado o martelo, Maria, a faca, e Krestina, o spray de pimenta.
No entanto, os advogados das irmãs dizem que o assassinato foi um ato de legítima defesa. Segundo o código penal russo, legítima defesa é prevista não apenas em casos de agressão imediata, mas também em crimes continuados, como, por exemplo, ser torturado enquanto refém.
A defesa das garotas insiste que as meninas foram vítimas de crime continuado e, por isso, deveriam ser inocentadas.
Os advogados esperam que a acusação contra elas seja retirada, uma vez que as investigações confirmaram abusos do pai desde 2014.
Ativistas de direitos humanos e muitos outros russos agora pedem mudanças na lei e medidas como abrigos para vítimas de violência, ordens de restrição e cursos para corrigir comportamentos agressivos de abusadores.
Não há estatísticas oficiais de quantas mulheres são vítimas de violência doméstica na Rússia, apenas estimativas. De acordo com ativistas de direitos humanos, uma em cada quatro famílias pode enfrentar o problema.
Casos chocantes são estampados com frequência em manchetes, como o de Margarita Gracheva, que teve as mãos amputadas pelo marido com um machado por ciúmes.
Alguns especialistas dizem que até 80% das mulheres presas na Rússia por assassinato mataram abusadores em legítima defesa.
Mas também há críticas contra as irmãs Khachaturyan do setor mais conservador da sociedade russa. Uma associação chamada Estado dos Homens – que enumera o “patriarcado” e o “nacionalismo” como seus dois principais valores e conta com quase 150 mil seguidores nas redes sociais – organizou uma campanha chamada “Assassinos atrás das grades”, insistindo que as irmãs não deveriam ser inocentadas.
Entre os que defendem as irmãs, além de uma petição online pedindo a retirada das acusações, já aconteceram leituras de poesia solidária, comícios e apresentações teatrais.
Daria Serenko, feminista e ativista de Moscou que ajudou a organizar um comício de apoio de três dias em junho, diz que o principal objetivo dos eventos públicos é manter o caso no noticiário e dar segurança a quem quiser falar desse assunto.
“O abuso doméstico é uma realidade da vida na Rússia. Podemos ignorá-lo, mas afeta as nossas vidas, mesmo que nunca o tenhamos experimentado pessoalmente”, diz ela.
bbc.com/brasil
Investigadores confirmaram que o pai das garotas abusou fisicamente e psicologicamente das três, por anos a fio.
O caso das irmãs, que foram indiciadas por homicídio, e também o que pode acontecer agora com elas, vem provocando muita polêmica sobre violência doméstica na Rússia. Mais de 300 mil pessoas já assinaram uma petição pedindo para que elas sejam libertadas.
O que aconteceu com o pai?
Na noite de 27 de julho de 2018, Mikhail Khachaturyan, de 57 anos, convocou Krestina, Angelina e Maria, que era menor à época, para irem, uma a uma, ao quarto dele. Ele as repreendeu por não terem limpado o apartamento adequadamente e borrifou gás de pimenta nos rostos das filhas.Logo depois, quando adormeceu, as meninas o atacaram com uma faca, um martelo e spray de pimenta, atingindo-o na cabeça, no pescoço e no peito. O corpo de do russo foi encontrado com mais de 30 ferimentos a faca.
A filha mais nova ligou para a polícia, e as três foram presas no local do crime.
A investigação logo indicou um longo histórico de violência na família. Khachaturyan bateu nas filhas regularmente nos últimos três anos, torturando-as e mantendo-as prisioneiras em casa, além de abusar delas sexualmente.
Todas as evidências contra o pai estão no inquérito policial.
Violência doméstica na Rússia
O caso atraiu a atenção da opinião pública rapidamente. Ativistas de direitos humanos argumentam que as irmãs não são criminosas, mas vítimas, uma vez que não tinham proteção nem receberam ajuda.
Na Rússia, não existem leis específicas para proteger vítimas de violência doméstica.
Desde 2017, a legislação prevê multa e até duas semanas de detenção para agressores que sejam réus primário e que tenham batido pela primeira vez em um integrante da família, desde que a agressão não leve a vítima ao hospital.
A polícia russa normalmente trata abuso doméstico como “problema de família”, oferecendo pouco ou nenhum auxílio.
A mãe das garotas, que também apanhou e foi abusada sexualmente do marido, já havia procurado a polícia anos antes. Vizinhos da família, que tinham medo de Khachaturyan, também o denunciaram. Mas não há nenhum indício de que a política tenha tomado providências.
Quando o homem foi morto, a mãe das meninas já não morava com a família. O pai havia proibido as filhas de manter contato com a mãe.
De acordo com avaliações psicológicas, as irmãs viviam em situação de isolamento e sofriam de estresse pós-traumático.
O que aconteceu durante a investigação?
O inquérito das irmãs Khachaturyan caminha lentamente. Elas já não estão detidas, mas têm restrições. Não podem, por exemplo, dar entrevistas ou se comunicar entre elas.Promotores insistem que o assassinato foi premeditado porque a vítima estava dormindo, e as irmãs coordenaram as ações, escondendo a faca cedo, ainda pela manhã. A motivação, argumenta a acusação, é vingança.
Se forem condenadas, as irmãs podem ficar até 20 anos na prisão. Angelina teria usado o martelo, Maria, a faca, e Krestina, o spray de pimenta.
No entanto, os advogados das irmãs dizem que o assassinato foi um ato de legítima defesa. Segundo o código penal russo, legítima defesa é prevista não apenas em casos de agressão imediata, mas também em crimes continuados, como, por exemplo, ser torturado enquanto refém.
A defesa das garotas insiste que as meninas foram vítimas de crime continuado e, por isso, deveriam ser inocentadas.
Os advogados esperam que a acusação contra elas seja retirada, uma vez que as investigações confirmaram abusos do pai desde 2014.
Ativistas de direitos humanos e muitos outros russos agora pedem mudanças na lei e medidas como abrigos para vítimas de violência, ordens de restrição e cursos para corrigir comportamentos agressivos de abusadores.
Não há estatísticas oficiais de quantas mulheres são vítimas de violência doméstica na Rússia, apenas estimativas. De acordo com ativistas de direitos humanos, uma em cada quatro famílias pode enfrentar o problema.
Casos chocantes são estampados com frequência em manchetes, como o de Margarita Gracheva, que teve as mãos amputadas pelo marido com um machado por ciúmes.
Alguns especialistas dizem que até 80% das mulheres presas na Rússia por assassinato mataram abusadores em legítima defesa.
Mas também há críticas contra as irmãs Khachaturyan do setor mais conservador da sociedade russa. Uma associação chamada Estado dos Homens – que enumera o “patriarcado” e o “nacionalismo” como seus dois principais valores e conta com quase 150 mil seguidores nas redes sociais – organizou uma campanha chamada “Assassinos atrás das grades”, insistindo que as irmãs não deveriam ser inocentadas.
Entre os que defendem as irmãs, além de uma petição online pedindo a retirada das acusações, já aconteceram leituras de poesia solidária, comícios e apresentações teatrais.
Daria Serenko, feminista e ativista de Moscou que ajudou a organizar um comício de apoio de três dias em junho, diz que o principal objetivo dos eventos públicos é manter o caso no noticiário e dar segurança a quem quiser falar desse assunto.
“O abuso doméstico é uma realidade da vida na Rússia. Podemos ignorá-lo, mas afeta as nossas vidas, mesmo que nunca o tenhamos experimentado pessoalmente”, diz ela.
bbc.com/brasil
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