Pra quem nasceu no final da década de 1960, informo que existiu um ramal de estrada de ferro da concessionaria inglesa Great Western (Grande Oeste) em Alagoa Grande. A estação principal foi inaugurada no dia 01 de julho de 1901 e abandonada na década de 60, quando o ramal ferroviário foi extinto. Não se sabe o ano exato da despedida do trem.
Segundo o historiador José Avelar Freire (2002), o último chefe da Estação , o sr. Antonio Gomes da Silva só foi comunicado poucos dias antes da suspensão das viagens de trem e que houve a paralisação da “ linha férrea no final de 1966(?).”
Segundo informações do Portal Estações Ferroviárias(2021), o ramal ferroviário de Alagoa Grande tinha 3 estações, a Estação Capim (na Fazenda Gomes), a Estação Bastiões(na Fazenda Bastiões) e a Estação Alagoa Grande.
Em relação a Subestação Capim da Fazenda Gomes, transcrevo a seguir a informação do referido Portal: “ A estação ferroviária de Capim foi provavelmente inaugurada em 1909(?) pela Great Western, junto com a parada de Bastiões. A área da fazenda onde está localizada tem cerca de 3.500 hectares com 115 casas de moradia. Localiza-se na divisa entre os municípios de Alagoa Grande e Mulungu. Nesta localidade produzia legumes e roças em grandes quantidades. A pecuária chegou a ter 3.000 cabeças de gado bovino. Na fazenda de Telésforo Onofre Marinho, existia a parada de Capim, construção de madeira, que a exemplo de Bastiões, servia para transportes de alimentos e passageiros. Assim como aconteceu em Bastiões e na estação de Alagoa Grande, esta parada foi suprimida em novembro de 1967(?). O nome do local hoje é Gomes.” (Fontes: Guias Levi, 1932-1984; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Revista Ferroviária, agosto de 2000).
Segundo o Portal Estações Ferroviárias, sobre a subestação de Bastiões: “A estação ferroviária de Bastiões foi inaugurada em 1909(?), pela Great Western of Brazil Railway. Bastiões é um povoado do município de Alagoa Grande. Com cerca de 1.400 hectares, apresenta hoje, 2008, cerca de 330 casas de moradia, sendo 300 cobertas por telhas. Por certo período, abrangendo as décadas de 1940 e 1950, plantou-se, em média, 300 hectares de feijão. No local havia 3 casas de farinha. Na parada de Bastiões, que era uma construção de alvenaria, parte da produção (feijão, milho, fava, etc) da fazenda de Bastiões era colocada nos vagões (no retorno de João Pessoa e Cabedelo) e era conduzida para as feiras livres dessas cidades; a outra parte era transportada por animais. A linha foi desativada em novembro de 1967, por ordem de um decreto do então Ministro de Viação e Obras Juarez Távora, no Governo de Castelo Branco. A estação foi demolida.” (Fontes: Jonathas Rodrigues, 2008; Guias Levi, 1932-1984; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Revista Ferroviária, agosto de 2000).
Ainda segundo informa o referido Portal em relação a estação rincipal ou estação-sede: “ A estação ferroviária de Alagoa Grande foi inaugurada em 1901, pela Great Western of Brazil Railway. Era a ponta de um ramal que ligava o então povoado de Camarazal (antiga Mulungu), pertencente na época ao município de Guarabira, a Alagoa Grande. Na verdade, o ramal deveria continuar até a cidade de Patos, no oeste paraibano, ponta dos trilhos de um ramal da RVC, e aí formar-se-ia a E. F. Ceará-Paraíba.
Em 1922, as obras já estavam adiantadas entre Alagoa Grande e Pocinhos; quem cuidava na época de boa parte das ferrovias do Nordeste, inclusive dali, era o IFOCS (Instituto Federal de Obras contra as Secas) e a ferrovia ali estava sendo construída não somente como ligação dos dois Estados como também para facilitar a construção dos diversos açudes no Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, que também estavam sendo construídos na época.
Com o abandono do projeto todo por Artur Bernardes, Presidente da República empossado em novembro de 1922, alegando falta de recursos, a ligação também parou, sendo retomada somente nos anos 1950, porém, não a partir de Alagoa Grande, como seria em 1922, mas sim a partir de Campina Grande, até Pocinhos, e dali a Patos, onde a ferrovia já havia chegado, vinda do CE, desde os anos 1920.
De qualquer forma, a chegada do trem a Alagoa Grande pelo leste da PB foi significativa, fazendo com que a cidade e a região experimentasse ainda no primeiro decênio do século XX um rápido crescimento econômico. A estação proporcionou o escoamento do seu maior produto agrícola, o algodão, além de mercadorias muito abundantes na região do Brejo Paraibano, como a rapadura produzida por 26 engenhos existentes naquela época no município, o agave, o açúcar e fibras de sisal, esta entre os anos 1940 e 1960.
A estação também proporcionava a vinda de riquezas econômicas e sócio-culturais para o município, mas foi desativada em 1967 (segundo J. Rodrigues) pela RFN, por ordem de um decreto do Governo Federal. O ramal foi oficialmente erradicado em novembro de 1968.
O prédio da estação ainda estava de pé, em ruínas, em 2009 e os trilhos do ramal já haviam sido retirados. Ainda segundo Jonatas Rodrigues (2009), o prédio foi tombado pelo IPHAEP (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba) em 2001 e a Prefeitura se prontificou em restaurar e construir no local um centro cultural:
"Visitei-a a primeira vez em agosto de 2006 e nada ainda tinha sido feito. Estive agora no dia 12 de outubro de 2009 e a coisa continua a mesma, com o prédio totalmente em ruínas. Infelizmente acho que ele vai cair com o tempo e nada dos poderes públicos agirem. Creio que o IPHAEP não conhece a situação do prédio atualmente, ou conhece e não toma nenhuma providência junto aos poderes competentes". Em setembro de 2012 havia sinais iniciais de restauro no prédio, mas este estava ainda muito combalido. “
O responsável e também pai da iniciativa de instalação do ramal ferroviário em Alagoa Grande foi o senador Apolônio Zenayde, devido à sua liderança e influência política no Império e na República. Se a morte não tivesse chegado antes, teria governado a Paraíba. Mas esta dívida só foi paga pela história paraibana, com a eleição posterior do maior dos alagoa-grandenses, o politico, jurista, escritor e estadista Oswaldo Trigueiro.
O jornal A imprensa no dia 23 de junho de 1901, noticiou que na semana passada o presidente (governador) José Peregrino de Araújo esteve na Vila de Alagoa Grande e foi recebido com festa , tendo percorrido o trecho da estrada de ferro recentemente construída e cuja inauguração será no dia 01 julho.
No dia 07 de julho o citado Jornal A Imprensa informou que a linha férrea Conde D’ Eu começou a funcionar no trecho de Mulungú à Alagoa Grande.
O trem “Maria Fumaça” de Alagoa Grande na sua breve vida transportou milhares de toneladas de mercadorias e milhares de passageiros, com viagens diárias de Alagoa Grande à Capital, saindo da estação de trem de Alagoa Grande com paradas nas subestações da Fazenda Bastiões e da Fazenda Gomes.
Conforme informado a subestação do povoado Bastiões era uma construção de alvenaria datada de 1909 e a subestação de Capim(atual fazenda Gomes) era uma construção de madeira.
Segundo afirmou a pesquisadora americana Linda Lewin(1993, p. 76) “com a inauguração de um ramal para Alagoa Grande, em 1901, esse centro da caatinga-agreste ganhou acesso direto à Capital e à Cabedelo. Conseqüentemente, Areia e Guarabira perderam seu monopólio no comércio entre o litoral e os sertões”.
O comércio de Alagoa Grande teve um grande impulso com a chegada do trem. A expansão econômica e o prestígio político de Alagoa Grande se amplia como decorrência do trem. Esse comércio monopolizado por Alagoa Grande exercia influência sobre o comércio de Areia, Alagoa Nova, Esperança, Remígio, Alagoinha e sua vizinha próxima Campina Grande(antes da chegada do trem).Com a inauguração da Ferrovia de Campina Grande em 1907, o comércio de Alagoa Grande foi declinando. Em poucos anos, Campina surgiu vitoriosa e teve sua própria ligação ferroviária direta com o comércio de Recife.
As gerações mais antigas de Alagoa Grande conhecem e viajaram no trem entre 1901 e 1967(?).Não era o trem-bala, o trem de prata ou o trem azul; era simplesmente o trem maria-fumaça que virou o trem-fantasma de Alagoa Grande.
Fátima Zenaide(bisneta do pai do trem) convida as suas conterrâneas alagoa-grandenses para ver a chegada do trem-fantasma :
“ Meninas, ainda dá tempo de ver sua chegada! São quatro e mais, ele chega às cinco! Enquanto isso, a gente fica comendo mata fome!!!!! As árvores ficavam perto da “ roda onde o trem virava” ai meu Deus que saudade! Ele [o trem] chegava cantando; Café com pão, bolacha não! Café com pão, bolacha não!Uhuuu! Podem lembrar ... as rodas de ferro cantavam isso...”
Era uma vez um trem! Era uma vez uma estação! Era uma vez um trem na estação. E eu sempre esperando a sua chegada. Um passageiro da agonia. Nas três estações do trem de Alagoa Grande.
Velhos, bons tempos viram
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